24/10/2018


FONDATION MAISON DU BRÉSIL

XLI Cycle de Conférences

(exceptionnellement en portugais)

24 octobre 2018 – salle Lucio Costa – 19h30

A linguística no contexto brasileiro

 

A   TOPONÍMIA   INDÍGENA   EM   MATO   GROSSO   DO   SUL/BRASIL:   UM   ESTUDO ETNOLINGUÍSTICO

Camila André do Nascimento da SILVA. Doutoranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS, Brasil) com estágio de doutorado pela Universidade Paris XIII – Sorbone Paris Cité (Paris XIII, France). Bolsista CAPES/COFECUB.

Este trabalho apresenta resultados preliminares da pesquisa em desenvolvimento, como projeto de Tese de Doutorado, que tem como objeto de pesquisa o estudo dos topônimos de origem indígena que nomeiam acidentes físicos rurais, do estado de Mato Grosso do Sul/Brasil. A proposta  da  pesquisa é realizar um estudo dos  topônimos  de origem indígena, que configuram o léxico toponímico identificado nos 79 municípios sul-mato-grossenses. Por meio da análise de topônimos indígenas, procura-se destacar a importância da influência das línguas indígenas no processo de nomeação dos acidentes físicos do Estado, evidenciando a contribuição vocabular ameríndia revelada nos topônimos e incorporadas ao léxico da língua portuguesa. O corpus em análise foi extraído do Sistema ATEMS, banco de dados do projeto Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul. Esses dados foram complementados por meio de consultas aos mapas oficiais atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010). O corpus é constituído por cerca de 1.869 topônimos formados com base lexical indígenas, como em rio Paraná, córrego Buriti, córrego Fundo do Mutuca, córrego Lagoa do Guapé. A pesquisa tem como  orientação teórica os estudos onomásticos, especificamente os relativos à Toponímia, propostos por Albert Dauzat (1926); Charles Rostaing (1945); George Stwart (1954); Dick (1990; 1992), entre outros. Para a descrição da etimologia e, consequentemente, identificar a língua de origem dos topônimos, foram consultadas obras lexicográficas de línguas indígenas tais como: Sampaio (1928); Tibiriçá (1985; 1989); Navarro (2013) e Cunha (1999). Em suma, os dados analisados têm evidenciado que o rico legado do tupi no léxico do português brasileiro se reflete de forma significativa na toponímia à medida que o estudo tem demonstrado que a herança indígena configura-se como uma marca significativa no panorama toponímico tanto do Brasil como do Estado de Mato Grosso do Sul. A maior produtividade de topônimos de base indígena   evidencia-se  entre  nomes  descritivos  motivados   por  elementos   da  flora,   da  fauna   e   de  correntes   hídricas, fornecidos pela população nativa aos colonizadores que se perpetuam na toponímia.

 

NORMAS LINGUÍSTICAS EM USO: UMA DESCRIÇÃO DOS REGIONALISMOS PARA      BALA     NOS DADOS    DO PROJETO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (ALiB)

Vanessa YIDA – Doutoranda em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina (UEL, Brasil), com período de estágio doutoral na Universidade Paris XIII – Villetaneuse (Paris XIII, França). Bolsista CAPES/COFECUB.

Este trabalho visa discutir uma proposta de definição dos regionalismos a partir da noção de norma linguística como uso, de sistematização coseriana, somando-a à dicotomia langue/parole saussureana. Sob esse prisma, os usos linguísticos são atrelados às realizações comuns que integram uma comunidade, que, por sua vez, liga-se a determinado espaço sócio-geográfico. Posto isso, esta pesquisa, com base nos pressupostos teórico metodológicos da Geolinguística e da Lexicologia, tem por foco central descrever e cartografar as variantes coletadas como respostas para cinco questões do campo semântico da Alimentação e Cozinha do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) (COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALiB, 2001), nas entrevistas efetuadas em 250 cidades do interior e capitais do Brasil, registradas na fala de 1000 informantes com nível fundamental de escolarização incompleto. Diante da análise da distribuição diatópica das formas linguísticas nas cartas, buscamos identificar as variantes lexicais regionais, contrastando os usos mais gerais (norma geral) em relação às formas linguísticas regionais (norma regional). Ademais, discorremos a respeito da influência da formação social na manutenção do léxico dialetal, retrato de um processo sócio-histórico. Agregamos à investigação, a consulta a dicionários para averiguar a etimologia das variantes coletadas, com o propósito de convalidá-las e atualizar as suas marcas de uso. Para esta apresentação, selecionamos as respostas à questão 185 do Questionário Semântico-Lexical (QSL) do projeto, que indaga: Como se chama aquilo embrulhado em papel colorido que se chupa?, a fim de registrar variantes para bala. Como aporte teórico para a discussão, somam-se os trabalhos de Hjelmslev (1942) e as contribuições de Biderman (1978), Coseriu (1987), Cunha (1987), Rey (2001), Câmara Jr (2004), dentre outros, nas discussões referentes à norma linguística, em suas duas perspectivas: normativa (prescritiva) e normal (no sentido usual, tradicional). Pretende-se, dessa forma, demonstrar a contribuição de um estudo geolinguístico mais abrangente como o Projeto ALiB na descrição e delimitação areal das formas linguísticas, perenizando os usos regionais.